quarta-feira, 12 de junho de 2013

A Face Oculta do Amor

Estudo retirado do livro A Face Oculta do Amor do pastor Coty da Jocum.

Em II Samuel 13: 1-17 vemos a história de Amnon e Tamar
Amnom, filho de Davi, apaixonou-se por Tamar; ela era muito bonita e era irmã de Absalão, outro filho de Davi.
Amnom ficou angustiado a ponto de adoecer por causa de sua meio-irmã Tamar, pois ela era virgem, e parecia-lhe impossível aproximar-se dela. Amnom tinha um amigo muito astuto chamado Jonadabe, filho de Siméia, irmão de Davi.
Ele perguntou a Amnom: "Filho do rei, por que todo dia você está abatido? Quer me contar o que se passa? " Amnom lhe disse: "Estou apaixonado por Tamar, irmã de meu irmão Absalão".
Então disse Jonadabe: "Vá para a cama e finja estar doente". "Quando seu pai vier visitá-lo, diga-lhe: Permite que minha irmã Tamar venha dar-me de comer. Gostaria que ela preparasse a comida aqui mesmo e me servisse. Assim poderei vê-la. "
Amnom atendeu e deitou-se na cama, fingindo-se doente. Quando o rei foi visitá-lo, Amnom lhe disse: "Eu gostaria que minha irmã Tamar viesse e preparasse dois bolos aqui mesmo e me servisse".
Davi mandou dizer a Tamar no palácio: "Vá à casa de seu irmão Amnom e prepare algo para ele comer".
Assim, Tamar foi à casa de seu irmão, que estava deitado. Ela amassou a farinha, preparou os bolos na presença dele e os assou.
Depois pegou a assadeira e lhe serviu os bolos, mas ele não quis comer. Então Amnom deu ordem para que todos saíssem; depois que todos saíram, Amnom disse a Tamar: "Traga os bolos e sirva-me aqui no meu quarto". Tamar levou os bolos que havia preparado ao quarto de seu irmão.
Mas quando ela se aproximou para servi-lo, ele a agarrou e disse: "Deite-se comigo, minha irmã". Mas ela lhe disse: "Não, meu irmão! Não me faça essa violência. Não se faz uma coisa dessas em Israel! Não cometa essa loucura.
O que seria de mim? Como eu poderia livrar-me da minha desonra? E o que seria de você? Você cairia em desgraça em Israel. Fale com o rei; ele deixará que eu me case com você".
Mas Amnom não quis ouvir e, sendo mais forte que ela, violentou-a. Logo depois Amnom sentiu uma forte aversão por ela, mais forte que a paixão que sentira. E disse a ela: "Levante-se e saia! "
Mas ela lhe disse: "Não, meu irmão, mandar-me embora seria pior do que o mal que você já me fez". Ele, porém, não quis ouvi-la, 
e chamando seu servo, disse-lhe: "Ponha esta mulher para fora daqui e tranque a porta". 
2 Samuel 13:1-17

Amnom estava totalmente dominado por um sentimento que removeu os limites e o controle do seu comportamento. A sensualidade torna a pessoa surda e desenfreada, ou seja, imediatista em relação aos seus desejos. Amnom impiedosamente extravasou seus sentimentos e desejos através da força e agressão, o que resultou num incesto.

Aqui se define o estado agudo de desequilíbrio que a sensualidade provoca em suas vítimas. O que temos em pauta é um desgoverno total baseado na falência do domínio próprio. O amor sensual sempre se confunde e mistura com o ódio e a aversão. Ele segue a instabilidade emocional e espiritual da pessoa. Quando a pessoa se sente bem ela "ama", quando a pessoa se sente mal, ela aborrece. O amor sensual se baseia puramente na satisfação psico-emocional do indivíduo.

Paixão
O motivo existencial da sensualidade é a ânsia pelo prazer e não a responsabilidade de fazer a outra pessoa feliz. As motivações normalmente são egocêntricas e condenáveis.
Não existe mal nenhum em nutrir um sentimento por alguém, mas idolatrar este sentimento sendo governado, ou melhor dizendo, desgovernado por ele, redunda em sensualidade.
"e aconteceu depois disto que, tendo Absalão, filho de Davi, uma irmã formosa, cujo nome era Tamar, Amnom, filho de Davi, amou-a. E angustiou-se Amnom, até adoecer, por Tamar, sua irmã..."
A paixão ainda está muito longe de ser amor verdadeiro, o qual é marcado pelo compromisso, respeito, fidelidade, paciência, etc.

Aversão
A aversão é a outra face do espírito de sensualidade a ser contemplada por aqueles que se tornaram enlouquecidos pela paixão. Esta é a face oculta do amor. Normalmente, a intensidade do descontrole sentimental causado pela paixão será diretamente proporcional no sentimento de aversão.

Depois que a pessoa já empanturrou todo seu apetite sentimental e principalmente sexual, como Amnom fez, sendo desaprovado na prova da paixão, onde normalmente ninguém cogita a manipulação de forças demoníacas, surge agora a manifestação de um sentimento repugnante, faccioso, claramente diabólico de ódio e aversão. A pessoa passa a simplesmente não suportar a presença da outra: 
"Depois Amnom sentiu por ela grande aversão, e maior era a aversão que sentiu por ela, que o amor que lhe votara. E disse-lhe Amnom: Levanta-te, vai-te embora".

Isto, em muitos casos, chega a se tornar uma oscilação crônica, onde o casal vive "entre tapas e beijos". "Amor" na hora do prazer e rejeição na hora da responsabilidade.
Esta aversão vai gerando problemas, melindrosidades, supervalorização do irrisório, desconfianças, ciúmes, assuntos crônicos de contenda, clima de amargura e total desentendimento. Um quadro de infelicidade total. 
Pesadas cargas de rejeição e palavras potencialmente ferinas são trocadas, e vão golpeando e desgastando o relacionamento que vai perdendo a resistência. O ódio se instala, seguido pela indiferença e desprezo, e assim, mais um divórcio acaba sendo concretizado por atitudes de traição e abandono.

Paixão e aversão, um par inseparável. Mas o Espírito Santo tem uma arma poderosa: o domínio próprio. Dominar a paixão é a maior prova que nosso compromisso subsistirá à prova da aversão. O verdadeiro amor não se deixa abalar pelos extremos da paixão nem da aversão, pois antes de tudo honra uma aliança com Deus.

Obstinação
A sensualidade gera um sentimento que se baseia no medo de perder. Este sentimento é o ciúme e através dele materializa-se a possessividade que constitui uma das mais terríveis deformações da personalidade, onde a pessoa se sente no direito de viver a vida de outros por eles.

O ciúme, que se fundamenta na insegurança em relação a conseguir o que deseja, peca frontalmente contra o espírito de renúncia que é a engrenagem mestra que nos move nos caminhos de Deus. Sem renúncia, a idolatria, a possessividade e todo tipo de descontrole se instalam.
Quando Amnom se fixou na improbabilidade de conseguir um relacionamento com Tamar, o medo de perdê-la começou a gerar um desespero que redundou numa cobiça implacável.

O medo de perder produz uma insegurança aguda que nos leva literalmente a furtar a liberdade da outra pessoa que é o objeto de nossa cobiça, anulando sua individualidade, violando a liberdade e asfixiando o relacionamento. Enquanto a renúncia nos faz andar com Deus. O ciúme nos faz andar com o diabo num caminho de depressão, baixa estima e desespero.

A sensualidade também pode assumir um porte de neurose, onde a pessoa permanece trancada num mundo onde apenas os sonhos e fantasias daquela paixão estão presentes. A pessoa acaba ficando paralisada, sem iniciativa, profundamente enferma na alma, sobrevivendo para as outras áreas da vida.

"E angustiou-se Amnom, até adoecer, por Tamar, sua irmã, porque era virgem: e parecia aos olhos de Amnom dificultoso fazer-lhe coisa alguma".

O amor sensual que inundava a vida de Amnom primeiramente levou-o a uma plataforma de incredulidade na possibilidade de um relacionamento com Tamar, ou seja, foi torturado pela inferioridade e medo de não conseguir, onde seus sentimentos se angustiaram tanto a ponto de somatizarem, ou seja, adoecendo-o fisicamente.
Rebelando-se contra este ambiente interno de dor e medo, se projetou através de uma obstinação cega, obedecendo a qualquer preço os impulsos da sua paixão.

Falta de compromisso
O amor sensual se fundamenta na auto-satisfação. Ou seja, a essência que traduz a motivação da pessoa não é servir, mas usar. A motivação é ser feliz e não fazer a outra pessoa feliz.
Podemos perceber claramente esta falta de compromisso da qual consistia a grande paixão de Amnom: 

"E disse-lhe Amnom: Levanta-te, vai-te embora. Então ela lhe disse: Não há razão de me despedires assim; maior seria este mal do que o outro que já me tens feito. Porém não lhe quis dar ouvidos".

Amnom não teve a mínima consideração com a pessoa que a poucos instantes estava tão apaixonado. Ele a manipulou, forçou, usou, abusou, humilhou, e lançou fora como um objeto que não era mais conveniente. Não é de se surpreender que Amnom tenha perdido precocemente sua vida, sendo assassinado friamente pelo próprio irmão.

Inconstância e transitoriedade
A falta de compromisso faz com que um relacionamento seja fraco e superficial, como também torna a pessoa totalmente volúvel nos seus sentimentosO amor sensual está totalmente fechado para conciliar o sofrimento, a responsabilidade diante das dificuldades e a paciência, que são os agentes depuradores do verdadeiro amor. Portanto, o amor sensual só sobrevive enquanto está agradando e atendendo interesses próprios. 

Quando o relacionamento não dá mais o retorno esperado, parece mais fácil e cômodo sair pela tangente, não importando as conseqüências, bem como os danos psicológicos que isto poderá causar.

No caso de Amnom, sua paixão durou o curto tempo de uma relação sexual forçada e precipitada, onde apenas ele se satisfez. Sua paixão, nada mais era que um desejo sexual ardente. Quando o desejo acabou, a paixão também acabou. Tudo que sobrou foi aversão e frustração.


Falta de exclusividade
O espírito de sensualidade impõe um índice tão acentuado de descontrole e insatisfação, que se torna normal a pessoa ficar flutuando em vários objetivos amorosos simultaneamente. A concupiscência dos olhos e da carne passa a controlar o comportamento do indivíduo.

Os mandamentos de Deus são sábios e constituem uma salvaguarda para todos que os obedecem. Não queiramos ser mais sábios que a Bíblia. Todos os casos de poligamia na Biblia tiveram serias conseqüências na historia de seus descendentes, provando que esse nunca foi o propósito original de Deus.
A sensualidade sempre conduz à defraudação. O espírito de sensualidade impõe sobre as pessoas pensamentos cíclicos de imoralidade e intermináveis fantasias sexuais.

A suprema excelência do amor diz: Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta". Este amor nunca falha.

quinta-feira, 6 de junho de 2013

O Silencio de Adão

Em seu livro "O Silencio de Adão" Larry Crabb aborda o assunto da masculinidade de uma forma bem interessante. Creio que é pertinente ao homem entender um pouco sobre sua virilidade. Portanto transcrevo alguns trechos do livro a fim de colaborar com ambos os sexos na compreensão da sua identidade.

Algo foi perdido. Há algo errado com os homens. Algo bom que Deus colocou dentro de cada homem. Como forma de introduzir minha compreensão da masculinidade, pense na masculinidade como uma energia- um impulso natural dentro do coração de todo homem.

Homens pouco viris
Quando a energia masculina não é liberada, quando é suprimida ou distorcida, os homens:
1-Sentem-se impotentes- por isso compensam dedicando-se a controlar alguma coisa. Tornam-se homens agressivos
2- Zangam-se- experimentam fúria e se convencem de que vingança lhes é devida. Tornam-se homens abusivos.
3-Aterrorizam-se- vivem com um terror para o qual não há solução ou escape, apenas alívio. eles atenuam o terror com prazer físico e tornam-se viciados.

Muitos homens estão trilhando um caminho que, pensam, os levarão ao usufruir da legitima masculinidade, pode demorar até que percebam que o caminho que estiveram seguindo libera energia masculina mais corrupta que genuína.


 Homens viris
1- Sabe que é forte e nao importente. Sua vocação de refletir Deus, em sua forma de se relacionar, os motiva mais do que seu desejo por poder ou medo de impotência.
2-Não se sentem ameaçados (paz). Sua tristeza e solidão desperta uma compaixão pelas pessoas. É manso, não fraco, cujo poder é controlado para bons propósitos.
3-Não é viciado, ele trata o corpo com severidade para evitar o perigo de submeter-se a um poder alheio. Ele luta pesado contra seu desejo implacável de prazer. Ele se move de acordo com um plano.

O que está errado com homens?
Todo homem se debate com um silêncio profundo e escolhido. Os homens querem amar e ser amados, mas se sentem interiormente bloqueados. Algo não permite que suas emoções e sentimentos venham para fora.

Ora, a serpente era o mais astuto de todos os animais selvagens que o Senhor Deus tinha feito. E ela perguntou à mulher: "Foi isto mesmo que Deus disse: ‘Não comam de nenhum fruto das árvores do jardim’? "
Respondeu a mulher à serpente: "Podemos comer do fruto das árvores do jardim, mas Deus disse: ‘Não comam do fruto da árvore que está no meio do jardim, nem toquem nele; do contrário vocês morrerão’ ".
Disse a serpente à mulher: "Certamente não morrerão!
Deus sabe que, no dia em que dele comerem, seus olhos se abrirão, e vocês serão como Deus, conhecedores do bem e do mal".
Quando a mulher viu que a árvore parecia agradável ao paladar, era atraente aos olhos e, além disso, desejável para dela se obter discernimento, tomou do seu fruto, comeu-o e o deu a seu marido, que comeu também.
Os olhos dos dois se abriram, e perceberam que estavam nus; então juntaram folhas de figueira para cobrir-se. 
Gênesis 3:1-7

Ao longo da história, a Igreja tem culpado Eva pela queda da raça humana. A maior parte das pessoas presume que, enquanto a serpente e Eva conversavam, Adão estava em outro lugar. Tem sido ensinado que Eva deu o primeiro passo para pecar contra Deus, e que Adão apenas seguiu o seu exemplo. Mas e se Adão estivesse ali com Eva durante toda a conversa? E se sua desobediência começou, não quando comeu do fruto, mas, quando se recusou a falar com a serpente ou com sua esposa?

Se Adão esteve presente e se calou. A interpretação de Gn talvez tenha permitido que os homens culpem as mulheres por seus problemas- exatamente como Adão culpou Eva- e não assumam responsabilidade por seus fracassos. Então seu silêncio se torna um pecado.

Adão foi um homem passivo, ele esteve fisicamente presente, mas, emocionalmente ausente. Adão foi passivo 3 vezes. ele ouviu a serpente, ouviu a esposa, aceitou o fruto e, então, comeu. A Palavra de Deus suscitou a Criação do caos, o silêncio de Adão trouxe o caos de volta a Criação. Deus usou a linguagem para estabelecer um relacionamento; Adão usou o silêncio para destruir o relacionamento. Adão o portador da imagem de Deus, não refletiu o seu Deus.

O texto de Genesis declara que Adão estava ali. "Quando a mulher viu que a árvore parecia agradável ao paladar, era atraente aos olhos e, além disso, desejável para dela se obter discernimento, tomou do seu fruto, comeu-o e o deu também a seu marido, que estava com ela e ele  comeu".Gênesis 3:6

Essa frase simples e condenatória tem sido grandemente ignorada. Em hebraico, a palavra imha é composta de duas outras, cuja tradução para o português seria equivalente a "com ela". A construção hebraica é uma combinação de preposição 'im' que significa com e pronome pessoal feminino na 3 pessoa 'ha', que significa 'ela'. Quando 'im' é usado, denota grande proximidade entre os interlocutores, não apenas uma associação muito chegada, mas proximidade física.

A narrativa de Gn também se passa numa única unidade de tempo. Não há nada no versículo 6 que sugira que Adão estava distante no momento da tentação. Não há qualquer quebra de tempo, ao contrário, vemos Eva tomar do fruto, morde-lo e imediatamente entrega-lo ao seu passivo e silencioso marido, que estava com ela. Eva não saiu de cena e foi procurar Adão. 

O autor de Gênesis revelou o enredo e o problema nos 3 primeiros capitulos. Os demais 47 cap. desenvolvem o mesmo tema do silencio masculino, esses homens continuamente metem-se em apuros quando escolhem o silencio em vez de envolvimento. Adão não ficou sozinho em seu silêncio. Sua escolha de se calar estabeleceu o padrão para a desobediência dos homens desde então.

O silêncio de Adão foi letal. Ele trouxe quebra de relacionamento. E em ultima instancia, trouxe a morte.
Então disse Adão: A mulher que me deste por companheira, ela me deu da árvore, e comi.
Gênesis 3:12

Por na mulher a culpa tira dos ombros do homem a responsabilidade. Sendo um homem que se sente inadequado e incompetente, é importante que nunca esteja errado, nunca seja o culpado. O silencio ou o desaparecimento tornam-se a melhor defesa contra o medo.

Deus criou os homens para trazerem redenção a um mundo trágico. Ele os criou fortes para protegerem os que o cercam. Mas ele foi danificado em algum momento da vida. Ele conhece o perigo de se arriscar, quer no relacionamento, quer no trabalho. Muitos estão convencidos de que a confusão dos relacionamentos e a incerteza do futuro pode destrui-los. Assim permanecem calados. quando os homens se calam, contudo, negam a existência e a bondade de Deus. O silencio destrói, o falar cria.